Aqui na vila pescatoria de mamallapuram, nos restos do tsunami, foram criados diferentes orfanatos para as criancas vitimas da tragedia.
Eu e a jacqui estamos a fazer voluntariado e temos passado as nossas tardes com estas criancas incriveis, de sorrisos inteiros, e que nos dizem ter medo de nada.
Ensinamos-lhes ingles, fazemos jogos e damos-lhes muitos beijos e colo.
Estas criancas querem ser medicos e engenheiros ou professores.
Teem sonhos e projectos, como todos nos.
No chao, por acaso varrido, ainda que com inconturnaveis mosquitos, deitam-se todos juntos para dormir. Debaixo do corpo nao teem sequer uma esteira de palhinha.
Nada.
A cozinha e lenha no chao, e fogo vivo.
E as roupas do corpo quando lavadas e estendidas, devem ser esperadas, enquanto os corpos nuzitos secam no telhado, sem roupas substitutas.
Estas criancas, como devem imaginar, sao lindas, e e uma alegria imensa passar o meu tempo com elas. Sinto que e tempo bem passado, e bem merecido.

Mas ao almoco, conhecemos uma arqueologista e professora universitaria francesa que aqui trabalha num dos muitos projectos humanitarios pos tsunami, que nos informou da historia chocante e decepcionante da maioria dos orfanatos.
Acontece que as criancas sao vendidas pelos proprios pais no sri lanka e trazidas para tamil nadu, onde vivem ate aos dezoito anos.
Durante esse tempo, os imensos turistas e o dinheiro de ajuda humanitaria recolhido do ocidente e distribuido pelas organizacoes dos orfanatos e posteriormente desviado.
Assim sendo estas criancas sao compradas e utilizadas como uma fachada (vitimas falsas do tsunami) para a recolha de fundos de ajuda.
Para terminar o karma, a maioria destas criancas serao mais provavelmente novamente vendidas aos dezoito anos para a Tailandia onde servirao casas de prostituicao.
Assim vai a vida humana. O mercado humano e devorador, e o maior e quase invisivel tsunami. Nao e drama, tragedia, ou TV. E realidade.